Engana-se quem pensa que o isolamento e o preconceito são "coisas" do passado na vida das pessoas atingidas pela hanseníase. Apesar dos avanços da medicina e da possibilidade de cura a partir da descoberta de medicação, na década de 70, as pessoas seqüeladas por conta da doença sofrem as mesmas dores de um período em que eram impedidas de ter convívio familiar, apontadas e denunciadas como bandidos, chamadas de "leprosos" e confinadas.
Em Manaus, o bairro da Colônia Antonio Aleixo, na Zona Leste, reúne inúmeras dessas histórias de desrespeito. Valdenora Cruz, 48, que integra o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), cita o exemplo de moradores do bairro que ainda enfrentam dificuldades para arranjar emprego, conseguir vagas em escolas particulares e conviverem com outros moradores do próprio bairro.
Apesar de já terem sido extintas, por decreto presidencial em 1978, as colônias que abrigavam hansenianos, na prática, ainda existem. Na Colônia Antônio Aleixo, os antigos pavilhões construídos para abrigar os soldados da borracha em 1942 e que serviram depois para confinar pacientes hoje estão abandonados e cercados de outras moradias agregadas. No Hospital Geral Geraldo da Rocha, vivem também dezenas de pacientes que sofrem com problemas de saúde decorrentes da doença - os principais são as úlceras plantares (nas plantas dos pés) - e abandonados pelos familiares. "Considero o hospital um depósito de sucatas humanas", afirma Valdenora, que defende a adoção de uma política nacional voltada para a melhoria da qualidade de vida dos atingidos pela hanseníase. Os pacientes de hanseníase não dispõem, por exemplo, de médicos especialistas no Geraldo da Rocha. "Hoje, o Sistema Único de Saúde só funciona para fazer as amputações, o que é um crime", enfatiza Valdenora.
Fonte: A Crítica
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